Sarney

Tenho asco quando algum político vem a público defender-se de acusações e para fazê-lo precisa ler laudas e laudas de discurso escrito previamente para tanto. Porque precisa ler ? Por acaso não sabe ele a verdade? Por acaso não sabe as atitudes que tomou? Não tomou conhecimento do teor dos documentos que assinou? Porque algum ghostwriter precisa escrever as palavras que lhe sairão da boca?

Qualquer cidadão medianamente inteligente sabe a resposta. Quem é correto não precisa pensar o que fala, não precisa medir as palavras. Ao cidadão reto basta falar a verdade. Quem é honesto não recorre a filigranas para falar a verdade. O honesto não declara que tudo o que fez é legalmente correto. O probo fala que tudo que fez e fará é legal, moral e eticamente correto porque não tem medo, não tem o rabo preso.

Se a um senador é permitido fazer o que este verme faz o que poderá ser cobrado de um trabalhador que não recebe nem o mínimo necessário para sobreviver dignamente? Quanto mais o tempo passa mais verdadeiro se torna o discurso que proferiu Rui Barbosa em 1914:

"A falta de justiça, Srs. Senadores, é o grande mal da nossa terra, o mal dos males, a origem de todas as nossas infelicidades, a fonte de todo nosso descrédito, é a miséria suprema desta pobre nação. (...) A injustiça, Senhores, desanima o trabalho, a honestidade, o bem; cresta em flor os espíritos dos moços, semeia no coração das gerações que vêm nascendo a semente da podridão, habitua os homens a não acreditar senão na estrela, na fortuna, no acaso, na loteria da sorte, promove a desonestidade, promove a venalidade, promove a relaxação, insufla a cortesania, a baixeza, sob todas as suas formas. De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. (...)"